08 maio 2007

Novas oportunidades

A maioria já terá reparado que figuras públicas como Pedro Abrunhosa, Judite de Sousa ou Carlos Queiroz (ou será Queirós? Não faço ideia, adiante) deram a cara por uma campanha do Governo português, através de dois dos seus ministérios, o da Educação e o do Trabalho e Solidariedade Social.

A mensagem é simples e clara. É preciso que os portugueses encarem a formação como algo que não acaba no nono ano ou no 12º ano. Se o país quer andar para a frente, progredir, desenvolver-se, tem de apostar na formação das suas gentes, do seu povo. Toda esta ideia é muito nobre mas será que a forma como a campanha está a ser feita é a mais correcta?

Reflecti um pouco sobre o assunto quando, um dia destes, dei de caras com um daqueles "outdoors" gigantescos que invadiram, principalmente, as nossas cidades com a imagem de uma rapariga que é empregada de mesa. Na mensagem perguntava-se, se bem me lembro, o que poderia ter acontecido àquela jovem se tivesse continuado a estudar...

Bem, numa primeira análise, possivelmente nada. É sabido a quantidade de jovens licenciados que estão desempregados. Penso que é um dos sectores onde a taxa de desemprego é mais elevada. Para além disso, poucos são os que auferem ordenados coincidentes com o todo o esforço que fizeram (lembremos que há pais que tiveram de se privar de praticamente de tudo para dar o canudo ao filho ou à filha e que muitos destes investiram nos estudos com perspectivas de um futuro risonho). Este fim-de-semana dizia-me um amigo meu: "Quando penso nas pessoas que se deram ao trabalho de estudar, de fazer um curso superior, e agora ganham 500 euros. É inconcebível", dizia-me ele. A verdade é essa, o sistema está completamente subvertido. Não há uma política coerente de educação nem de apoio aos jovens. Portugal está, mais uma vez, na cauda da Europa. Os portugueses são dos que mais tarde saem de casa dos pais. Não por falta de vontade de serem independentes, mas sim por serem incapazes de arrendar/comprar casa, pagar as contas da água, da luz e do gás. Porque esses 500 euros, na maioria das vezes, não chegam para "mandar cantar um cego".

Por outro lado, a mensagem da campanha "Novas Oportunidades" é discriminatória. Isto, na minha opinião, como é óbvio. É vergonhoso o que se está a fazer. Afinal, segundo o nosso Governo, ser empregado de balcão é de "segunda", ser operário metalúrgico é menos nobre. Agora entendo porque o nosso Primeiro-Ministro tanto investiu numa licenciatura em Engenharia Civil, mesmo que para isso tenha sido necessário recorrer a meios mais obscuros, menos nobres, tal qual um qualquer empregado de mesa ou de balcão, como sugere tão inovadora campanha.

É triste, muito triste tudo isto. Foi feita uma aposta na educação, na formação e na inovação. Pelo menos é o que se diz. Portugal quer tornar-se uma Finlândia. Fantástico, é uma excelente ideia apostarmos na melhoria da qualidade dos portugueses enquanto profissionais. Mas não nos podemos esquecer que o país não sobrevive apenas com doutores, cientistas e outros tantos... Vamos continuar a precisar de agricultores, de emrpegados de balcão ou de outras tantas profissões "secundárias". É preciso sim, apostar na formação destas pessoas e d continuar a formá-las, para que os nossos agricultores adoptem novas técnicas de produção mais eficazes, para que os nossos pescadores possam pescar com maior racionalidade, etc. etc.

Bem, depois deste testamento, fico-me por aqui. Desculpem lá a maçada. Mas hoje tinha de fazer este desabafo.

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