31 outubro 2006

A lição de Tarragona

Circo, corridas de carros puxados por cavalos. 30 mil pessoas em êxtase puxam pelos “pilotos” favoritos. Nas bancadas fazem-se apostas. Alguns “vendem” a alma ao diabo, na esperança de, com um golpe de sorte, nunca mais pensarem nos tostões que têm para viver dia-a-dia. A Roma antiga era uma civilização apaixonante, vibrante mas também vivia nos extremos. Por um lado representa uma racionalidade e uma organização impressionante. A estratégia de guerra foi praticamente insuperável, como comprova a expansão que chegou a quase toda a Europa e ao Norte de África. Foi também nessa época que se criou o Direito românico, todo um sistema de leis pelo qual ainda se rege a maior parte das sociedades ocidentais. Mas, por outro lado, a barbárie convivia lado a lado com a população daquela época.

Pude comprovar isso mesmo numa breve visita a Tarragona, perto de Barcelona. Uma das mais importantes cidades daquela época, Tarragona era uma espécie de capital da península Ibérica. Aí viviam 40 mil pessoas que viviam apaixonadamente os momentos de lazer, fosse no circo, com as corridas de carros puxados por cavalos, ou no anfiteatro, onde homens (gladiadores) lutavam até à morte para se saber quem era o melhor. Sangue, gente trucidada, era o ópio do povo daquela altura.

Por momentos, dei por mim a pensar nos litros de sangue e sofrimento ali derramados, num local, hoje Património da Humanidade, e questionei-me o que aconteceria se fosse nos dias de hoje. Mais reprimido, o instinto carnal e sádico dos homens de há dois mil anos atrás ainda transparece em casos mais ou menos pontuais. Seja através das torturas em Guantanamo, dos abusos nas prisões iraquianas, da opressão praticada por alguns países onde a democracia ainda não chegou, do incumprimento dos direitos humanos, ou até em algumas praxes mais “ousadas”.

O que seria do nosso Mundo sem isto? Pareço “naive” em acreditar num mundo melhor? Não, e sei que muitos dos problemas do Homem têm como causa o egoísmo próprio da raça humana. Dou um exemplo. Os Verões têm sido cada vez mais secos e os Invernos cada vez mais molhados. O clima está completamente baralhado. Estamos a entrar em Novembro e a temperatura média supera os 20 graus centígrados. Está tudo louco. O aquecimento global está a dar cabo do nosso planeta e o que se faz para o evitar a tempo? Pouco ou nada. Porquê? Porque o egoísmo impera. O protocolo de Quioto já existe há alguns anos. Já foi referido inúmeras vezes que é necessário que todos os países o respeitem. Mesmo que isso aconteça, o problema não fica resolvido, é apenas um primeiro passo. Mas este não anda nem desanda. A maior potência mundial é, neste caso, o exemplo mais paradigmático do egoísmo humano. Todos os outros cumprem, mas o governo dos EUA recusa-se a fazer. Poluem e não querem saber. São os principais responsáveis pela destruição do planeta.

Enquanto não for feito um exame de consciência por cada um de nós, tenho sérias dúvidas que possamos perder os já referidos instintos violentos, o egoísmo e a insensatez há tantos anos conotada com a raça humana. Mas eu ainda acredito que um dia será possível olhar para as ruínas de Tarragona e perceber o que aquele povo nos deu de bom e de mau, mas, acima de tudo, poder absorver isso e por em prática todos os ensinamentos positivos.

19 outubro 2006

Aperto no coração

O vazio preenche o corpo. Como que por magia, damos por nós despejados, sem força ou qualquer tipo de conteúdo. O coração parece ter deixado de bater.

Efectuam-se diversas tentativas de reanimação. Mas não há nada a fazer. A chama está lá, mas recusa-se a aquecê-lo. Sente-se fraca, sozinha, abandonada. Suplica por ajuda, por apoio, mas ninguém a ouve. Por fora, pouco se percebe, mas por dentro estou destroçado. Hoje sinto-me assim, sozinho, triste!

É horrível, angustiante. Provoca confusão mas o esófago parece constrangido, apertado com uma tenaz, bem forte. Mas não a vejo. Onde está essa ferramenta que provoca tal aflição? Não se vê, é invisível! Mas é dolorosa, impiedosa!

Alto! Pára por aqui! Sei que não é assim, ao dizer estas palavras que conseguirei colorir, de novo, o que me enche de vida por dentro. Não é este o método. Mas sou optimista por natureza, sempre fui e não quero deixar de ser. Acredito, por isso, que tudo se vai recompor e os campos ficarão novamente verdejantes, com a veloz e estonteante felicidade a atingir todos os extremos e preenchendo-me, novamente, de alegria.

Mas há um problema. De repente, tenho medo que isso não aconteça. Então, aí, o muro começa a desmoronar-se... e fico soterrado. Não quero que isso aconteça. Isso não.