12 fevereiro 2007

Até o gravador deixou de funcionar

Sobrevivi ao rigor do Inverno sueco. Mas houve apareceram algumas dificuldades quando a temperatura caiu drasticamente dos oito negativos para uns simpáticos 18 graus a baixo de zero.

Bastavam 15 minutos na rua, parado, para os pés congelarem. As mãos não se mantinham quentes, nem com luvas. O gravador de voz, que utilizo para as entrevistas hibernou, deixou de funcionar. Ainda nem sei se já acordou deste sono. Penso que terão sido as pilhas que não aguentaram o frio, mas sinceramente ainda não sei em que estado está. Para apontar as notas no bloco tive de deixar a via tradicional e passar a escrever com luvas, porque era a única forma suportável. A escrita era mais lenta, mas não podia ser de outro modo. O frio era tal que até a tinta da caneta ficou mais espessa e já não queria sair pelo orifício.

Na cara, o ligeiro vento que se fazia sentir de vez em quando cortava a face como pequenas lâminas afiadas. Sempre que inspirava sentia que as entradas nasais começavam a congelar.

O mais impressionante é que a súbita quebra de temperatura aconteceu mal o sol fugiu lá longe, na penumbra do horizonte. A ausência de nuvens no céu permitiu que o calor se dissipasse e o termómetro começou a baixar em catadupa.

No final, consegui resistir e, agora, no conforto da temperatura positiva que se faz sentir em Portugal, passei a ter mais uma história para contar.

09 fevereiro 2007

Retratos do Rali da Suécia

O motivo da minha vinda à Suécia foi a segunda prova do campeonato do mundo de ralis que aqui se disputa e a presença do piloto português, Armindo Araújo, que começa, na neve, a sua sua carreira internacional.

Deixo aqui dois retratos. O primeiro marca a presença do tetracampeão nacional no rali. O segundo ilustra uma solução curiosa e eficaz de alguns dos espectadores da prova que, para terem uma melhor perspectiva, não decidiram subir a um pinheiro e assistir à passagem dos concorrentes de uma forma mais elevada e... confortável!



O frio é muito mas não intimida


A chegada à Suécia aconteceu debaixo de... frio! Não seria de esperar outra coisa. Aliás, os cinco graus negativos nem são problemáticos. Problemático foi a bagagem ter ficado retida em Estocolmo, e nós já estarmos em Karlstad, centro nevrálgico do Rali da Suécia.

Ao que parece, não podiamos fazer check-in directo para esta cidade a 300 quilómetros da capital sueca. Segundo nos disseram no aeroporto quando chegámos, as malas dos voos internacionais são inspeccionadas pela alfândega e isso obriga-nos a levantá-las e, quando temos de fazer ligação, voltar a fazer o chek-in. Resultado, as roupas para o frio só chegaram às nossas mãos quase à uma da manhã (horal local, menos uma em Portugal Continental). Menos mal…

Quando saímos do hotel esta manhã, às 7h40, o termómetro do carro marcava oito graus negativos. Nada de especial! O frio não penetrava pelos quilos de roupa que tinha vestido. Casaco, calças interiores, meias de neve, luvas… Tanta coisa que só sai da gaveta do meu quarto de quando em vez. Nem quando vamos à Serra da Estrela é preciso tanto aparato. Mas, tenho de admitir, que se assim não fosse assim era impossível sobreviver.

Os oito graus negativos da manhã prolongaram-se pelo resto do dia. Mas quando caiu a noite, ainda não eram 17 horas, a temperatura desceu subitamente e a face, única parte do corpo em contacto directo com o ar, ressentiu-se. Nada que a roupa vestida não aguente.

Os pés têm sido os membros mais castigados. Mesmo com umas meias reforçadas, o frio acaba por chegar às entranhas mais recônditas. Nos momentos em que passo mais tempo ao frio penso que a compra de umas botas de neve tinha sido uma aquisição inteligente. Mas o mal feito remediado está e, por isso, só tenho uma solução: aguentar-me assim. Só que as previsões meteorológicas apontam para uma quebra de 12 graus, ou seja, 20 negativos. Tudo se deve à “fuga” das nuvens que deixam o céu a descoberto. Sem este “manto” para segurar o pouco calor gerado, é normal que fique mais frio. Só não pensei que fosse tanto da noite para o dia.

Enfim. Sempre me disseram que o frio é uma questão psicológica e cada vez mais sinto isso. Já houve dias em Portugal, com temperaturas positivas em que tive mais problemas. Assim, sinto-me pronto para enfrentar o gelo.

05 fevereiro 2007

Frustração na hora de não votar

Há oito anos participei activamente em conversas de escola, tertúlias entre amigos e em outros tantos momentos onde discutimos a questão do aborto. Infelizmente, em 1998 ainda não tinha idade legal para votar. Por isso, nessa altura, não pude contribuir com o meu voto para evitar que, agora, voltássemos a ter novo referendo e discutir, novamente, a questão do aborto.

Há oito não tinha dúvidas, votava sim. Hoje, votava novamente no sim. Digo votava porque, antes de justificar a minha escolha, não vou poder, mais uma vez, colocar o “papelinho mágico” na urna. Não é o tempo quente, o sol, ou a praia que me impedem. Não são os centros comerciais ou os “enfadonhos” filmes que passam nas televisões nacionais (daqui excluo os canais por cabo porque esses são privilégio e não uma realidade em grande parte dos lares portugueses), exceptuando a RTP que actualmente até tem transmitido algumas séries bastante interessantes, que me “prendem” ao sofá e não me deixam sair de casa para cumprir o meu direito e dever (sim, porque votar também é um dever). Não posso votar porque este fim-de-semana disputa-se um rali do campeonato do Mundo e eu vou fazer a cobertura jornalística da prova. O regresso está agendado para domingo, mas quando o avião aterrar no aeroporto da Portela, em Lisboa, já as urnas estarão fechadas. Infelizmente não vou poder cumprir com uma das minhas obrigações enquanto cidadão.

Há oito anos não votei no referendo sobre o aborto porque ainda não tinha idade para tal. No próximo domingo voltarei a não votar por impedimentos profissionais e, por isso, sinto-me frustrado. Queria poder participar mais activamente nesta questão tão importante da nossa sociedade. No entanto, não posso deixar de dizer que, se pudesse colocar o boletim de voto na urna, votaria SIM.

Votaria SIM porquê? Porque sim parece-me suficiente. Mas não me fico por aqui. Também não vou alongar este texto, até porque hoje estou um pouco divagador (já se notou, não já?). Votaria SIM porque sou pela VIDA. E não sou hipócrita como aqueles que são pelo NÃO. Senão vejamos… no estado actual das coisas, quem em dinheiro e possibilidades, faz as asneiras e vai lá fora. Basta ir a Badajoz (hoje em dia, de Lisboa a Badajoz são duas horas de caminho) para abortar. Esta é uma forma fácil, eficaz e discreta de por termo a uma gravidez que não se deseja. Mas quem não tem essas condições o que faz? Ou assume a criança, ou sujeita-se a abortar debaixo de um vão de escada, sem condições de higiene mínimas, numa operação efectuada por alguém com poucos conhecimentos científicos e técnicos para realizar uma tarefa tão exigente em termos humanos. O aborto, esse, não deixa de ser feito, mas as probabilidades de se por termo à vida sobe exponencialmente. Esta teoria parece um contra-senso. Mas não é! Num estabelecimento dotado de todas as condições, a mulher aborta e perde-se a vida de um embrião. Na situação actual morre o embrião e pode, também, morrer a mãe.

Mas não é esta a principal razão que me faria votar SIM. Eu colocaria a cruz à frente dessa resposta porque sou pela liberdade de escolha. Há pessoas que podem ser determinante contra o acto de abortar, mas não podem tirar esse direito a outra mulher que o deseje fazer, independentemente das suas razões.

Bem, mas já estou farto de dissertar e divagar por hoje.

Penso que fui claro ao marcar a minha posição. Assim, todos sabem o que penso desta questão e, mais uma vez, têm toda a liberdade de rebater os meus argumentos ou concordar com eles.

Obrigado

03 fevereiro 2007

25 anos assustam um bocado

É já amanhã que sopro 25 velas...

Nada de especial, dizem uns. Estás na flor da idade, dizem outros.

Estatisticamente ainda sou considerado um jovem, pois a maioria dos estudos estabelece o limite nos 30. Tenho um enorme prazer de fazer, ainda, parte desse grupo. Mas o estatuto "jovem" está a perder valor, importância. Tudo porque, em alguns casos, já somos considerados jovens até aos 40 anos...

Até onde é que isto irá? É certo que a esperança média de vida tem aumentado com o passar do tempo e com o desenvolvimento da sociedade, mas será que chegaremos ao absurdo de sermos "jovens" até aos 65 anos, data de reforma da maioria das pessoas?

Mas não é por isso que estou a escrever neste momento. 25 anos pode não ser muito tempo, mas quando muito bem vividos representam muitas e boas, para não dizer excelentes, memórias. Também há as más. Mas no meu baú, estas ocupam um espaço bem escondido, que só servem como conhecimento apreendido, normalmente para não voltar a repeti-las.

Mas também não é bem isto que quero transmitir. Limito-me a deixar uma questão para reflexão. Ainda somos novos quando fazemos 25 anos, mas se virmos a realidade por outro ponto de vista? 25 anos representam um quarto de século. Estou prestes a completar um quarto de século! É assustador...

Nota: Aceitam-se opiniões, comentários, reflexões acerca deste assunto. Obrigado