26 setembro 2007

Fechados para a História

Mal saí de casa passei pelo quiosque que há lá perto. Fui buscar o segundo volume de uma colecção extraordinária, editada pelo Expresso. Chama-se Grandes Fotógrafos. A primeira retratava Portugal, através das lentes de alguns dos melhores disparadores obturadores que existem no planeta.

Neste segundo volume, Robert Capa, Henri Cartier-Bresson (um dos fundadores da agência Magnum, considerada a melhor agência fotográfica do Mundo), W. Eugene Smith e Yevgeni Khaldei transmitem, através da sua máquina, um olhar fotográfico de algumas guerras mundiais. Ainda não vi o livro todo, mas nas primeiras páginas há um particular destaque para a Guerra Civil de Espanha. Sabiam que Barcelona foi atacada pelos franquistas, obrigando milhares de republicanos a refugiarem-se em França? Eu não. Aliás, sinto vergonha, mas tenho de admitir que pouco mais sei acerca desta guerra do que o quadro de Guernica, pintado e imortalizado pelo génio espanhol das artes plásticas, Pablo Picasso. É triste dizer isto porra. Passou-se tudo mesmo aqui ao lado. A zona da raia ainda viveu esse embate com intensidade e nós pouco sabemos. Salvo uma mini-série produzida pela RTP há uns anos e quase não se fala nisso.

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Mas isto não é de estranhar. Até a nossa História é mal tratada. Não defendo que se deva dar mais umportância a algumas fases da História em detrimento de outras. É certo que há épocas que têm repercussões sociais, políticas, económicas ou culturais muito mais fortes do que outras. Mas vejamos. Todos nós sabemos que houve o 25 de Abril de 1974. Mas nem todos sabem porque é que aconteceu, no que resultou. Foi há pouco mais de 30 anos, mas as gerações que nasceram depois disso quase não são informadas... Não temos direito?

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Dizem-nos, mas isso faz parte dos programas curriculares. Pois faz, mas são sempre as últimas páginas, por vezes nem são abordadas porque entretanto o ano lectivo está no fim. Isto acontece meus senhores! Ou não se dá ou é dado à pressa só para ficar no sumário das aulas. Sei que, por evzes, é difícil relatar e explicar com distanciamento algo que ainda está tão fresco na memória de alguns, mas isso não serve de justificação para tudo. Além disso, a perspectiva dada nas salas das escolas acaba por ser extremamente romântica, com a história dos cravos nas armas e pouco mais. Não há uma contextualização política, não se explica quais foram as consequências, como se viveram aqueles anos seguintes. O PREC, por exemplo, não passa de um pequeno apontamento histórico, como se não tivesse muita importância. Não percebemos, com profundidade, as evoluções políticas ou as questões mais prementes da sociedade da altura. Não sei quem foi o primeiro presidente da Assembleia Constituinte, mas nem é isso o mais importante. Gostava de saber, sim, o que implicou esse orgão e o que lhe aconteceu. Tenho uma ideia, mas há quem não saiba, sequer, o que isso é.

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