10 outubro 2008

qualidade de vida

Ontem, enquanto fazia a viagem de autocarro, e depois de me deliciar com o “Adeus Lenine” dei por mim a pensar na pouca qualidade de vida que a capital me proporciona. Não é que nunca tenha pensado nisso antes. Mentiria se dissesse o contrário. Mas, por momentos, e quando me aproximava do tão desejado destino, reflecti em tudo aquilo que me desilude lá para os lados da capital (estou a escrever na província).

Casa – trabalho – casa! É esta a minha rotina. Um tédio. E as perspectivas de mudar são poucas ou quase nulas. Assim, foi com saudades que me lembrei dos tempos relaxados vividos numa capital de distrito despovoada, do interior, com problemas gravíssimos de desemprego e praticamente esquecida pelos senhores do poder. Mas, ainda assim, sou muito mais feliz nesse “fim do mundo” (“centro do mundo” para quem entenda uma private joke). Porque é aqui que respiro ar puro. Porque é aqui que, quando vou almoçar com a mãe, e estou à porta do edifício onde ela trabalha, me apercebo que posso olhar para a frente e ver o horizonte, os sobreiros, as oliveiras lá ao fundo... abençoados por um céu azul maravilhoso. Ao contrário, sempre que atravesso os dois corredores que separam a sala onde trabalho e a rua, lá na capital, preciso de olhar bem para cima para ver o céu e, mesmo assim, sempre com a presença inconveniente e mal-educada de uns prédios, uns mais gigantes do que outros, que perturbam, como se estivessem a interromper um diálogo só nosso, meu e do céu.

E isso é, apenas, a ponta do novelo. Há muito mais factores suficientemente importantes por si só que me fazem pensar desta forma. É a Paixão, é a família, são os amigos! É tudo isso, é o bem estar comigo próprio! É a distância, pequena por sinal, que separa tudo. É uma enorme paz de espírito que não sentimos nas filas de trânsito, nas duas horas que perdemos só para comprar meia dúzia de carcaças e um litro de leite, é a confusão do estacionamento quando queremos ir a um jardim ou um outro espaço qualquer público, é o tempo que perdemos de carro, às voltas, à procura de um lugar pequeno que seja (e caro quanto baste) para o atirarmos durante os momentos em que damos uma volta pelo bairro...

Não há volta a dar. Para aqueles lados há música para todos os gostos. Há muito teatro. Cinema todos os dias e com várias sessões. A praia está a 20 quilómetros, o campo a pouco mais! Mas, ainda assim, está tudo longe e custa dinheiro, muito dinheiro. Nada se faz sem esse bem tão valioso. E sublinho valioso. Porque lá tudo é pago e mais caro. A maioria das ofertas de ocupação de tempos livres, culturais, desportivas. E para não falar da praia ou do campo, que não custam nada até lá chegarmos... Qualidade de vida, portanto!

2 comentários:

Namaste disse...

Gostei muito deste texto, mas isso tu tb já sabes...Paixão!

Batista disse...

Vai mas é trabalhar, ó...