Não me enganei. Estive pouco tempo na cidade de Colónia, na Alemanha, e não falei com um único alemão a não ser Ralf Schumacher, piloto de Fórmula da Toyota, mas em inglês. Sinceramente, acho que nem ouvi um ligeiro diálogo naquela língua quase… esquizofrénica.
Cheguei ao final da tarde. A fome levou-me, juntamente com alguns colegas de profissão a atravessar o Reno para ver a catedral de Colónia mais de perto e comer qualquer coisa. Do hotel bastava atravessar uma ponte ferroviária, mas com passeio pedonal.
Subíamos as escadas quando as sirenes se aproximam. Eram os bombeiros. Corriam, não muito depressa, mas corriam. Aqueles fatos anti-fogo não são muito práticos para quem quer fazer os 100 metros em menos de 10 segundos. Começamos, também, a atravessar a ponte, no encalço dos soldados da paz. Soltamos para o ar a possibilidade de alguém se ter lançado para debaixo do comboio e se ter suicidado. Fazemo-lo com pouca convicção, mas à medida que nos aproximamos do centro de toda a acção a ideia começa a ganhar força. Já é de noite, e a visibilidade não é muita. O frio, cortante, quase asfixiante não fosse o casaco quente que me protege, e a chuva não ajudam mas dá para perceber que está um corpo debaixo da primeira composição do comboio. O meu corpo estremece. Não estou enregelado, muito pelo contrário, sinto-me bem quente, mas a crueza com que me apercebo da situação fazem-me tremer.
Dizia, no início, que não me tinha enganado. Pela primeira vez em solo alemão que não apenas aeroportos, comprovei o que pensava. O país transmite uma imagem de austeridade, rigor, severidade. É demasiada formalidade para mim, latino. Gostei bastante do que vi, pouco, mas já foi alguma coisa. Mas continuo a sentir que eles deveriam manter tudo o que têm, mas podiam ser um pouco mais relaxados. É certo que a minha ideia era preconcebida, o que podia não ajudar. O frio que nos corta a pele também não é favorável, mas, mesmo assim, não creio que seja por isso que fiquei com essa sensação.
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