14 novembro 2006

'Tou que nem posso…

Sinto-me… sei lá, assim a modos como… enfim, as entranhas estão corroídas, há um ligeiro tremor que percorre todas as artérias e veias do meu sistema circulatório que não querem explodir mas que me impelem a concretizar algo.
Passo a explicar.
Ontem quando cheguei a casa estive um pouco à conversa com o M. A dada altura, diz-me ele:
M. - Agora estou a ler um livro de um autor portalegrense.
Eu – Ai sim? Quem é?
M. – É o Rui Cardoso Martins.
Eu – Ah, sei perfeitamente, é um dos autores do Contra-Informação, escreve para o Inimigo Público.
M. – Foi um dos fundadores do Público, escreve a crónica “Levante-se o Réu (na revista semanal do Público, a Pública).
Eu – E sabes de quem é filho? Do prof. L.
M. – Sim, sei quem é.
Eu – E estás a gostar?
M. – Sim, mas acho que trata alguns temas de uma forma pouco elegante.

Ou seja, o que M queria dizer é que neste romance há episódios quase reais, “mascarados” por ligeiras trocas de nomes. Isso por vezes incomoda-nos. Daí eu ter perguntado ao M. se esse desconforto não se deveria à proximidade que ele próprio teria ao livro, visto este passar-se numa cidade do interior que nos viu nascer e crescer. M. foi claro, disse-me que não. Que o seu incómodo se devia a questões puramente literárias. Estética, portanto. Ainda assim, revelou-me que estava a gostar e que a escrita era bastante escorreita, permitindo uma leitura natural…

Fiquei a pensar nisso. O trabalho, no entanto, impediu-me de tentar entrar nesse imaginário. Não fosse o facto do M. me ter mostrado a capa do livro (as altas chaminés características daquela cidade do Alto Alentejo a fumegarem com toda a força) e não pensaria mais acerca de semelhante obra.
Já meio azamboado deitei-me sem sequer olhar para um livro que fosse. Mas hoje de manhã, enquanto a água quente escorria pelas costas despertou-me novo desejo de folhear aquelas páginas que, embora ainda não tenha lido, terão imenso significado… À medida que a temperatura se ambientava ao calor produzido por uma chama forte que fazia a água inundar a casa-de-banho de vapor, sentia vontade de absorver as frases da história.

Já mais fresco e fora do imenso nevoeiro deixado no pequeno cubículo, comentei com a C. que tinha vontade de comprar a obra. Está decidido que este será o próximo romance que me vai fazer companhia na banca de cabeceira.
Mas o formigueiro não me larga. Chega até a ser desconfortável. Tenho vontade de abrir o livro… já! Quero sair daqui e sentar-me ao ar livre, sentir o nariz a enregelar, a sentir os primeiros sinais verdadeiros de Outono, em que o frio só não chega aos ossos porque já estamos precavidos com vários agasalhos. Quero passar as primeiras páginas e, em pleno coração da capital, voar e chegar ao Alentejo num ápice onde, folha a folha, viverei a cidade como nunca antes o fiz.


Nota: Deixo aqui o link para quem quiser obter algumas informações sobre o livro.

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