18 julho 2006

Frigorífico a quanto obrigas

Viajar por um país com um frigorífico "às costas" deve ser uma grande aventura. Há um livro, do qual não me recordo o nome e que admito ainda não ter lido, que conta os incidentes de um viajante que deu a volta a um país (se a memória não me falha, a República da Irlanda) sempre com um frigorífico atrás! Louco, diria.

Mas não é propriamente esta obra literária que me faz escrever este texto. Aliás, é legítimo perguntar o que estou eu para aqui a falar. Passo a explicar.

Nunca me propus viajar por esse Portugal fora com um frigorífico. Nem sequer pensei em cometer tal acto insano. Mas, pode parecer estranho, na passada segunda-feira tive vivi uma autêntica aventura por causa de um aparelho do género. Decidi comprar um frigorífico. Viver com mais duas pessoas em casa, em que cada um precisa do seu espaço para guardar os alimentos pode ser complicado. Principalmente quando a área do congelador se limita a uma simples gaveta. Assim, optei por investir num equipamento que me permita ter comida preservada em condições para mais do que dois ou três dias.

Fui a uma dessas superfícies comerciais gigantes e fiz a minha escolha. Mas, como havia uma campanha que me permitia pagar o valor do respectivo em prestações mensais, durante dez meses, e não ter taxa de juro inerente, decidi-me por essa solução. Mas, com o calor a apertar, a loja estava “à pinha”, pois quase todos os portugueses lembraram-se que precisam de ventoinhas e equipamentos de ar condicionado para fazer frente à subida de temperatura que entra por nossas casas dentro. Para mal dos meus pecados, a secção dos frigoríficos era a mesma do ar condicionado, ou seja, havia uma multidão para comprar os tão desejados “guardiães” das temperaturas baixas.

Depois de escolher o frigorífico, fui encaminhado para o departamento de crédito. Nem havia muitos clientes à minha frente, mas tudo rumava contra. Ora era o sistema informático que estava lento, ora os funcionários não encontravam os responsáveis da loja para avalizarem os contratos. Resultado: quando cheguei àquela superfície comercial ainda ponderava ir ao cinema, à sessão das 21h20, mas, aprovado o crédito, reservado o frigorífico e concluídos todos os procedimentos para poder receber o equipamento confortavelmente em casa, acabei por sair do estabelecimento comercial quando o relógio já tinha assinalado as 22 badaladas. Tendo em conta que tinha entrado ainda antes das 20 horas e esperava demorar não mais do que meia hora, só sei que, no final, só me apetecia eliminar a palavra “frigorífico” do meu vocabulário.
Comparativamente à aventura do tal viajante, tudo o que passei não é sequer comparável mas, no ciclone de ideias que o meu cérebro gerou durante aquele período de tempo, senti-me mais um dos portugueses que paga o IRS no último dia da data e tem de ir para a repartição de finanças às cinco da manhã para ser atendido às 16 horas, ou um dos nossos compatriotas que vai a correr comprar um ar condicionado quando há uma vaga de calor, ou então um aquecedor, pois o Inverno também nos prega “partidas”.

Enfim, só espero que, quando chegar a casa, os senhores que entregam as encomendas não se esqueçam que têm de entregar o meu frigorífico hoje entre as 18 horas e as 22 horas. Também agradeço que não aconteça como daquela vez em que comprei a máquina de lavar roupa e para poder receber o equipamento nesse intervalo temporal paguei mais 2,5 euros e, depois, os senhores apareceram às 17h 30. Será que agora vai correr tudo dentro da normalidade?

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